quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Retrospectiva

Primeiramente eu gostaria de me desculpar por não levar isso aqui pra frente, o que acabou por ser um ato meio egoísta porque eu sei o quanto esse tipo de incentivo pra pessoas como eu ganhar o mundo é importante. Eu sei, mas tive meus motivos. A maioria das coisas boas que eu vou levar daqui e das experiências que eu vivi eram muito pessoais, eram aprendizado próprio. Eu saí de casa como uma menina pensando, ou melhor, sonhando como seria a vida aqui, pensando que morar sozinha num país diferente distante de tudo que eu tinha como vida normal seria a coisa mais tranquila e simples de se fazer. Bem, não foi. Mas vocês querem saber de uma coisa? Que bom que não foi. Porque cada uma das experiências que eu vivenciei me fizeram mais forte e me ajudaram a amadurecer um bocado. E eu vou tentar resumir um pouquinho das experiências que eu passei por aqui.

A primeira semana aqui o primeiro susto foi encontrar brasileiro como a zorra. Encontrar uns 20 brasileiros assim na encruzilhada do fim do mundo com o polo norte não é a coisa mais comum do mundo. E isso tem suas vantagens e desvantagens. Mas eu não via isso naquela época. Mas enfim, nessa primeira semana fiquei hospedada (leia-se ilhada) num hotel antes de o meu apt ficar livre. Só que do hotel não tinha jeito de eu sair pra lugar nenhum a não ser que fosse de carona (que eu ia pro College), de taxi ou atravessando uma rodovia mega movimentada. Como era só uma semana, sobrevivi.

Mas então, with a BIG help from the College, eu me mudei pro meu apartamento. Aaah, então agora é só arranjar uma roomate, fazer milhões de festas e chegar da balada a hora que eu quiser, certo? Só que não! Primeiro a parte da roomate aqui foi tarefa impossível que não se concretizou. Minha primeira tentativa de festa foi um fail épico, que me fez pensar em onde que eu tava com a cabeça em fazer uma festa onde você não pode nem secar a roupa depois das 23 hrs pelo barulho da máquina. Mas ok, lesson learned. A única coisa que eu podia fazer mesmo era chegar da balada a hora que eu quisesse. Gradis coisas, a balada fecha as duas mesmo (sim, você não leu errado. e essa não é a única coisa esquisita sobre a famosa shotgun, a única balada da cidade). Não era como se eu fosse chegar em casa no outro dia de manhã todo sábado.

Além disso, eu aprendi morando sozinha que: eu sou mais bagunceira que eu imaginava, mais preguiçosa que eu imaginava e melhor cozinheira que eu imaginava. Percebi que eu definitivamente não levo jeito pra dona de casa e só vou inventar de morar sozinha de novo quando eu tiver dinheiro pra pagar alguém pra arrumar pra mim toda semana. Mas além disso, o que eu gostei de morar sozinha é que eu aprendi a gostar muito mais de mim, da minha própria companhia. Isso levou tempo, claro, mas foi muito bom. Além de ser bom poder exercer minhas manias de falar sozinha e cantar sem ninguém achar que eu sou maluca ou ter que aturar minha cantoria enjoada. Ah, e descobri também que fazer feira pode ser super cansativo mas também bem divertido.

Mas grande parte do meu crescimento, talvez a maior, por aqui foi pelos relacionamentos. Talvez pelo fato de conhecer gente de diversos lugares, tão diferente de mim, que eu senti que foi diferente. Eu pude compartilhar experiências e conhecer outros modos de viver e de pensar. E também pelo fato de que tudo num intercâmbio é muito intenso. Sabe os """""""guerreiros"""""""" que saem do Big Brother dizendo que tudo que eles viveram lá foi rápido, mas foi muito intenso? Então, foi a mesma coisa aqui, sem a parte da pegação sem limites. Enfim, conheci gente que foi meu amigo do começo ao fim, conheci gente que me surpreendeu negativa e positivamente, conheci gente de todas as formas possíveis e cada uma me despertou um sentimento diferente e especial. Cada uma delas contribuiu pra que o meu tempo aqui fosse inesquecível.

É, acho que BEM resumidamente foi isso. Agora eu tou a uma semana de pegar o avião, já com mil coisas pra fazer, final pra estudar, presente pra comprar. Mas principalmente eu tou me dando conta de que eu vou sentir muitas saudades de tudo que eu vivi aqui e de pessoas que eu conheci e que, infelizmente, eu posso não ver nunca mais. E que sou péssima com despedidas, jurei que não vou ficar triste e que vou dar um até logo a todos. Que o destino se encarregue do restante.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Ansiedade Define

Faltam exatamente 29 horas, 2 minutos e 45, 46 , 44... segundos pra o maior passo que eu já tomei na minha vida. Meu coração tá que nem uma castanha por deixar tudo pra trás em busca de um mundo novo completamente desconhecido. Mas a caminhada até aqui foi bem longa e cheia de percalços pra desistir agora. A história toda dava até um livro, mas por enquanto o blog é uma escolha mais modesta.

Tudo começou com um acidente gravíssimo e clássico de batida de cadeira de rodas em 2012. Sim, porque eu sou uma pessoa de uma destreza que impressiona. E foi aí que eu consegui uma amiga veterana quando eu era caloura, através dela, um estágio quando eu era a única estudante em tempo integral da minha turma e um leque enorme de possibilidades que se abriu como se estivesse no meu destino estar naquela hora e naquele lugar. (Visitem o blog dessa minha amiga Paula, o nome é "Ô, essa menina". Não vou colocar o link, deixem de preguiça e google it!)

O fato é que eu comecei a trabalhar no mesmo lugar que a Paula trabalhava, ocupando o lugar dela. E claro que eu não estaria mais a vontade que na Assessoria para Assuntos Internacionais do IF que eu estudo. E foi a partir desse ponto que tomou força dentro de mim a vontade de viver a experiência de um intercâmbio.

Eu, como muitas pessoas com necessidades especiais, pensava aqui com meus miolos que isso era tarefa impossível. São tantos obstáculos que o cotidiano, principalmente no Brasil, impõe na nossa vida que a gente não se imagina em outra realidade que não seja a de ser pelo menos um pouco dependente de alguém pelo resto da vida. E num intercâmbio, como seria? Eu que gosto tanto de fazer as coisas sozinha do meu jeito vou encontrar estrutura pra isso?

Pra tentar desencanar minha cabeça eu contei com a ajuda da (de novo, novamente) Paulinha. Aí ela já tinha se tornado um referencial de coragem, perseverança e muitas outras coisas pra mim. Eu vi ela ir e voltar do Canadá e pude tirar muitas dúvidas com ela inclusive enquanto ela estava por lá. Depois de muito papo eu já estava determinada à pelo menos me inscrever. Pelo meu trabalho, eu pude acompanhar todo o processo seletivo interno de 2013 para esse intercâmbio e torcer pra que as meninas passassem no processo externo do ELAP. (o programa de intercâmbio do governo canadense para alunos da América Latina).

Passado um ano, o edital abriria de 2014 de Fevereiro pra Março. As conversas em casa sobre meus planos tinham agora que ser pra valer. No começo eu pensei que não fosse encontrar apoio, afinal, nunca tinha passado sequer uma noite num lugar em que meus pais não estivessem presentes. E nem eu tinha plena certeza se era madura suficiente pra enfrentar tudo o que estivesse por vir. No final das contas, eu consegui o consentimento que desejava e dois votos de confiança que valem mais que ouro.

Me inscrevi, fiz entrevista, fiz carta de intenção, fiz prova. A boa nova do edital interno não demorou a sair. Ao contrário do externo. Foram cerca de dois ou três meses de muita ansiedade, de tentar esquecer pra ver se o tempo passava mais rápido. Até que no mês de Julho, na quinta feira da semana limite de tempo hábil para preparação de uma viagem internacional, eis que sinto uma vibração na bolsa no meu colo no caminho de volta pra casa. Levei poucos segundos pra processar o efeito que aquele email teria na minha vida. Quase causei um acidente de carro por ter surtado na hora. Experimentei pela primeira vez na vida o que é chorar de felicidade.

Com a confirmação da minha bolsa do intercâmbio, eu queria agilizar tudo o que fosse possível, passagens, visto e acomodação. Os dois primeiros itens foram tranquilos, mas o último resultou em dores de cabeça, noites mal dormidas e muitas lágrimas derramadas. As criaturas andantes podem achar que isso é o de menos, afinal com dinheiro se arranjaria qualquer coisa. Mas não foi bem assim. Não numa cidade pequena em que o leque de opções não é tão grande assim. O plano desde o começo era ficar na residência universitária dentro do próprio College. Só que isso não foi possível, os dois quartos adequados pra mim na residência estavam ocupados pros dois semestres seguintes. Só depois de me inscrever é que tomei conhecimento da quantidade de alunos que procuram o College of the Rockies e que lotam residências, casas de família e afins meses antes do semestre letivo começar. Nessa situação, eu corria sérios riscos de perder a bolsa que havia conseguido.

Não posso negar que o College foi muito solícito em arrumar alternativas para mim. Mas meu plano sempre foi ir em Setembro e eu iria fazer tudo pra que ele fosse realizado mesmo quando o College of the Rockies disse que tinha tentado de tudo e que infelizmente não ia rolar (pelo menos não como eu queria). Aí foi quando um dos principais anjos na minha vida entrou em ação, ele numa manhã conseguiu o que seria uma moradia (quase) perfeita. Eu iria morar sozinha pela primeira vez na vida. Pelo menos até eu encontrar uma roomate para dividir o apartamento (ou encher o saco! Brincadeira!). Então eu fui da tristeza à alegria faltando menos de uma semana pra embarcar no avião.

O que nos leva ao tempo presente em que estou, escrevendo o primeiro dos posts nesse blog que eu espero que sirva além de memória pessoal mas também de incentivo para aqueles que acreditam ser impossível. Não é. E eu vou provar por A + B, querem ver?

Um beijo e até mais!